Médico Autônomo: Os Riscos do CPF e as Vantagens Estratégicas do PJ

Médico autônomo: atuar no CPF com Carnê-Leão (27,5%) ou abrir um PJ (6%)? Veja os riscos fiscais, a proteção patrimonial do CNPJ e a simulação de economia.
Médico autônomo analisando as vantagens estratégicas do PJ (CNPJ) em comparação com os riscos fiscais do CPF.

Sua jornada na medicina foi longa: anos de faculdade, residência, especializações e plantões exaustivos. Seu foco sempre foi o paciente, a técnica, o diagnóstico. Mas, à medida que sua carreira avança e seus rendimentos aumentam, você se depara com um “diagnóstico” assustador que não aprendeu na universidade: a mordida de 27,5% do Imposto de Renda.

Se você é um médico autônomo, que atua na Pessoa Física (CPF), você conhece bem essa realidade. O preenchimento mensal do Carnê-Leão, a dificuldade em deduzir despesas e a sensação de trabalhar quase um terço do mês apenas para pagar impostos.

Muitos médicos acreditam que este é o único caminho, ou que a “burocracia” de abrir um CNPJ (Pessoa Jurídica) não compensa. Esta crença é, financeiramente, um erro grave.

A decisão entre CPF ou PJ não é um detalhe contábil; é a decisão de planejamento de carreira mais importante que um médico pode tomar. Ela define não apenas quanto você paga de imposto, mas como você protege seu patrimônio e acessa as melhores oportunidades do mercado.

Neste guia, nós da Portobello Contabilidade, especialistas em médicos em São Paulo e no ABC, vamos dissecar os riscos que você corre no CPF e mostrar, com números, por que a migração para o PJ é a sua maior vantagem estratégica.

A Armadilha do CPF: O Alto Custo de Ser Médico Autônomo

Atuar como autônomo parece mais simples, mas é o regime tributário mais caro e arriscado para um profissional de saúde estabelecido.

1. A Tributação de 27,5% do Carnê-Leão

Como Pessoa Física, você é tributado pela tabela do Imposto de Renda (IRPF). Um médico com faturamento de R$ 20.000 ou R$ 30.000 mensais atinge a alíquota máxima (27,5%) quase que instantaneamente.

Além disso, você é obrigado a pagar:

  • INSS Autônomo: 20% sobre o seu rendimento (limitado ao teto).
  • ISS (Imposto Sobre Serviços): Uma taxa municipal que pode chegar a 5%.

2. A Ineficiência do Livro-Caixa

“Ah, mas eu posso deduzir minhas despesas no Carnê-Leão!”

Sim, mas as deduções (no livro-caixa) são extremamente limitadas. Você pode abater aluguel de consultório, materiais de consumo, telefone e CREMESP.

Mas e os grandes investimentos? A compra de um ultrassom? A depreciação do seu carro usado para visitas? O investimento em marketing? A maioria desses custos não pode ser abatida, fazendo com que sua base de cálculo (o valor sobre o qual os 27,5% incidem) seja artificialmente alta.

3. O Risco Constante da Malha Fina

Este é o maior perigo. Hospitais, clínicas e planos de saúde para os quais você presta serviço (mesmo como autônomo) são obrigados a informar à Receita Federal todos os pagamentos que fazem a você, via DIRF (Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte).

Se você esquecer de lançar um único plantão no seu Carnê-Leão, a Receita Federal saberá. O cruzamento é automático. Você será intimado, terá que pagar o imposto retroativo com juros (Selic) e uma multa que pode chegar a 75% do valor devido.

Simulação: Onde o Médico Autônomo Perde Dinheiro (CPF vs PJ)

Vamos aos números. Considere um médico em São Paulo com faturamento bruto de R$ 30.000,00 por mês e despesas dedutíveis (livro-caixa) de R$ 7.000,00 (aluguel, secretária, conselho, etc.).

Cenário 1: Médico Autônomo no CPF

  • Faturamento: R$ 30.000,00
  • Despesas Dedutíveis: R$ 7.000,00
  • Base de Cálculo (Rendimento Tributável): R$ 23.000,00
  • IRPF (Carnê-Leão 27,5%): Aprox. R$ 5.717,00
  • INSS Autônomo (20% sobre o teto): R$ 1.557,20 (Teto 2025)
  • ISS (Ex: 3%): R$ 900,00
  • Total de Custo (CPF): R$ 8.174,20

Cenário 2: Médico no PJ (Simples Nacional com Fator R)

Aqui, uma contabilidade especializada entra em ação. A atividade de medicina (CNAE 8630-5/03) pode usar o Fator R para ser tributada no Anexo III (6%) em vez do Anexo V (15,5%).

  • Faturamento: R$ 30.000,00
  • Estratégia (Fator R): Definir um Pró-Labore (salário do dono) de R$ 8.400 (28% do faturamento).
  • Imposto (DAS – Alíquota 6%): R$ 1.800,00
  • INSS (11% sobre o Pró-Labore): R$ 924,00 (que conta para sua aposentadoria)
  • IRRF (sobre o Pró-Labore): R$ 138,40 (já com desconto do INSS)
  • Total de Custo (PJ – Simples): R$ 2.862,40

Cenário 3: Médico no PJ (Lucro Presumido)

Se o médico tiver uma folha de pagamento muito baixa (ex: só ele) e não quiser um pró-labore alto, o Presumido é uma opção.

  • Faturamento: R$ 30.000,00
  • Impostos (PIS/COFINS/ISS/IRPJ/CSLL): Alíquota total de aprox. 13,33% a 16,33% (usando a base de 32% para saúde). Vamos usar 14,33% (com ISS de 2% de SP).
  • Imposto Total: R$ 4.300,00
  • INSS (sobre Pró-Labore mínimo): R$ 155,00 (11% do mínimo)
  • Total de Custo (PJ – Presumido): R$ 4.455,00

Resultado da Análise:

  • Economia (PJ Simples vs. CPF): R$ 5.311,80 por mês.
  • ECONOMIA ANUAL: R$ 63.741,60

Mesmo no Lucro Presumido, a economia anual seria de R$ 44.600,00. O CNPJ não é um custo; é um investimento que se paga em menos de um mês e gera dezenas de milhares de reais em lucro líquido para você.

As Vantagens Estratégicas do PJ (Além de Pagar Menos Imposto)

O dinheiro é o fator principal, mas as vantagens do PJ para o médico vão muito além.

1. Proteção Patrimonial (Blindagem)

Como médico autônomo (CPF), sua Pessoa Física e sua atividade profissional são a mesma coisa. Se você sofrer um processo de malpractice (erro médico) e for condenado a pagar uma indenização, seus bens pessoais (casa, carro, investimentos) respondem pela dívida.

Ao abrir um PJ, especialmente uma SLU (Sociedade Limitada Unipessoal), você cria uma “entidade” separada. As dívidas e processos contra a “Clínica Médica LTDA” são da empresa. Seu patrimônio pessoal fica protegido, blindado. Este é, talvez, o maior benefício estratégico.

2. Acesso aos Melhores Contratos (Hospitais e Planos de Saúde)

O mercado mudou. Hospitais e grandes centros de saúde não contratam mais médicos como CLT (é caro) e evitam ao máximo o pagamento a autônomos (CPF) pelo risco de vínculo empregatício.

Eles exigem que o médico tenha um CNPJ para “pejotizar” a relação. Ter um PJ não é mais uma opção; é um requisito para acessar os contratos mais lucrativos, dar plantões em grandes hospitais e ser credenciado em planos de saúde.

3. Gestão e Planejamento Sucessório

Seu CNPJ é um ativo. Sua clínica, seu consultório, seus contratos… tudo isso é um patrimônio empresarial. É muito mais fácil vender uma participação, trazer um sócio ou planejar sua sucessão (aposentadoria ou herança) através de uma estrutura de PJ (que pode ser parte de uma Holding) do que como uma “pessoa física que atende pacientes”.

Conclusão: O CPF é o Risco; o PJ é o Planejamento

Ser médico autônomo em 2026, com um faturamento estabelecido, é uma decisão que custa caro e coloca seu patrimônio em risco. Você está pagando 27,5% de imposto quando poderia pagar 6%. Você está arriscando seus bens pessoais em processos judiciais. Você está perdendo oportunidades em hospitais.

A migração para Pessoa Jurídica é o passo natural para o médico que deseja ser tratado como um empresário da própria carreira.

A burocracia de abertura, o registro no CREMESP-PJ, o alvará da COVISA (Vigilância Sanitária) e o cálculo mensal do Fator R são complexos, sim. Mas essa complexidade não é sua para gerenciar. É nossa.

Na Portobello Contabilidade, nosso trabalho é ser o “especialista financeiro” da sua carreira, para que você possa focar em ser o especialista em medicina que você é.

FAQ: Perguntas Frequentes sobre Médico CPF vs. PJ

Médico pode ser MEI (Microempreendedor Individual)?

R: Não. A medicina é uma atividade profissional regulamentada (intelectual e científica) e não é permitida no MEI. A abertura de empresa (PJ) para médicos deve ser feita como ME (Microempresa) ou EPP, geralmente como SLU (Sociedade Limitada Unipessoal) ou Sociedade Médica.

O que é Fator R para médicos, resumidamente?

R: É um benefício fiscal do Simples Nacional. Se a sua empresa (seu CNPJ) gasta 28% ou mais do seu faturamento com folha de pagamento (incluindo seu próprio pró-labore), a Receita reduz seu imposto do Anexo V (15,5%) para o Anexo III (iniciando em 6%). Uma contabilidade especialista calcula isso para você todo mês.

Posso ter um emprego CLT e um CNPJ ao mesmo tempo?

R: Sim. Esta é a realidade de muitos médicos. Você pode ter seu emprego CLT em um hospital e, para seus plantões, consultório particular ou serviços em outras clínicas, você usa seu CNPJ. Uma coisa não interfere na outra, e o CNPJ garante a tributação correta dessas rendas extras.

Se eu virar PJ, como fica minha aposentadoria (INSS)?

R: Você não deixa de contribuir. Como PJ, você é obrigado a retirar um pró-labore (seu “salário” de dono), e sobre ele incide a contribuição do INSS (11%). No nosso exemplo (Cenário 2), você contribuiria sobre R$ 8.400, o que é excelente para sua aposentadoria.

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